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Gabriela Gregório

TRANS-gredir a intolerância

Como consequência de séculos de luta incessante, a comunidade trans tem ganhado um espaço cada vez mais amplo na sociedade contemporânea. A questão queer ganha gradativamente mais a atenção da mídia, em especial da cultura pop, que evolui e se atualiza com uma constância incessante.

A cultura de massa atinge um grande contingente de pessoas e tem os meios de comunicação como suas principais fontes de conteúdo, com ênfase na internet, que durante o século XXI tem sido considerada a alma do pop.

Ao acompanhar as mudanças socioculturais com proximidade, a cultura de massa também se transformou e não poderia deixar de significar grupos que ganharam um destaque tão grande nos últimos anos, como o caso das pessoas trans. O empoderamento transgênero conecta-se diretamente com a cultura pop, que abre espaço para a discussão e representação do tema.

Todavia, a realidade ainda está longe do ideal. De acordo com a pesquisa do Trans Murder Monitoring, da ONG Transgender Europe, 226 pessoas trans foram assassinadas no ano de 2014 por crime de transfobia – sendo que 113 desses assassinados ocorreram no Brasil, que lidera a lista de países mais transfóbicos do mundo, e também é o país que mais consome pornografia trans. Uma contradição.

 

Positivar pela mídia

Ao longo das últimas décadas, a transexualidade foi retratada na ficção diversas vezes como algo cômico, atípico e disforme. Personagens transexuais eram encaixados a enredos apenas para serem engraçados, nunca eram protagonistas, nem mesmo mostravam a luta por trás da aparência do intérprete e não possuíam longos diálogos. Atualmente a situação alterou-se, não por completo, mas bastante. Filmes do gênero são vencedores de prêmios consagrados. Exemplos disso são A garota dinamarquesa, Clube de compras Dallas e o brasileiro Madame Satã. Séries que abordam a questão se transformam em verdadeiras febres, como Sense8 e RuPaul's Drag Race. Os personagens são levados a sério e demonstram profundidade.

Foto: //Reprodução

Como a cultura pop influencia e constrói a imagem do grupo transgênero na sociedade

Transexual, transgênero ou travesti?

A identidade sexual, juntamente com o gênero, sexo e orientação sexual, é um pilar da sexualidade humana. Segundo o especialista em gênero, Fernando Matos, gênero é como a pessoa se identifica, como homem, mulher, como ambos ou mesmo como nenhum. O gênero é determinado pela cultura, que cria atribuições para o comportamento social de masculino e feminino. Já a orientação sexual é a forma como as pessoas se relacionam de forma afetivo-sexualmente com outros. Ainda de acordo com Fernando, o sexo é relacionado aos órgãos genitais, não se relacionando com o comportamento.

Na transexualidade, a identidade sexual não corresponde ao sexo biológico. Os transexuais anseiam por uma mudança de sexo e procuram pela cirurgia sexual. Não tem relação direta com a orientação sexual, o indivíduo pode ser tanto heterossexual, homossexual ou bissexual. Já os travestis, ou crossdressers, vestem roupas e assessórios associados ao sexo oposto. Está ligado ao papel sexual, comportamento. Vivem parcial ou totalmente seu cotidiano como sendo do sexo oposto.

O termo transgênero é uma criação de função social para englobar os trans – travesti e transexual, dentre outras variações de gênero.

O prefixo trans pode ser definido por “além de”, “através de”. A ideia principal é definir as pessoas que estão em trânsito entre os gêneros. Para além do feminino. Para além do masculino.

Victória Sunshine, cinéfila transexual, assegurou que os personagens estão adquirindo mais complexidade e conseguindo retratar um pouco melhor a realidade das minorias, embora o mercado cinematográfico ainda seja extremamente preconceituoso. Conforme Victória, “os papéis de pessoas trans são quase sempre interpretados por atores cis”.

Lea T, modelo transexual brasileira, brilhou ao apresentar a delegação brasileira, sobre uma bicicleta, na cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016. Bem-sucedida e rosto de grifes internacionais como Givenchy, Lea foi a primeira transexual a ganhar destaque na história dos jogos Olímpicos. A também transexual Bethy Lutanno afirmou que o evento foi um grande passo para alterar como a transexualidade é vista no país e no mundo. “Por ser ao vivo e em horário nobre, a visibilidade foi imensa”, acrescentou Bethy.

Caitlyn Jenner conquistou fama após ganhar medalha de ouro no decatlo durante as Olimpíadas de 1976, em Montreal. Depois participou com sua família no famigerado reality show Keeping Up with the Kardashians. No ano passado, a ex-atleta enfrentou uma batalha interna e externa durante sua transição de gênero. A socialite norte-americana protagonizou uma polêmica, recebeu diversas críticas, mas também, apoio pelas suas redes sociais ao se assumir transexual e mudar seu nome para “Caitlyn”. No mesmo ano, estrelou outra série de TV, “I am Cait”, atualmente cancelada.

A pequena Siloh, filha de Brad Pitt e Angelina Jolie, de nove anos, também não se enxerga em seu gênero biológico. A criança já vestia roupas do sexo masculino desde os quatro anos, mas recentemente os pais revelaram que ela prefere ser chamada de “John”. John/Siloh é a maior prova dentro da cultura pop de que gênero e sexualidade não se escolhem. Nascem- se transgêneros. Não há como lutar contra si mesmo.

Os premiados filmes relacionados à questão transgênera

A Garota Dinamarquesa

É um filme que retrata com solidez a visão transgênera, contando a história do pintor dinamarquês Einar Wegener, que foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de re-designação sexual. Isso no ano de 1931, passando a se chamar Lili Elbe.

O foco da história se baseia no posicionamento de Einar em assumir uma identidade feminina, após sua esposa pedir para que ele posasse para retratos femininos, quando uma modelo falta ao ensaio na década de 1920. A esposa de Einar aceita tranquilamente a cirurgia, mas começa a se envolver com outro artista, formando um triângulo amoroso.​

O filme evidencia todos os passos do protagonista em seu trajeto para assumir uma nova identidade. É o protagonismo trans em meio à cultura pop.

Madame Satã

Consagrado filme brasileiro, que retrata a vida de uma famosa drag queen que frequentava o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Malandro, artista, presidiário, negro, pobre e homossexual, essas eram as características de João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã nas noites cariocas.

 

O filme dá enfoque à vida de uma conhecida drag no século XX, mostrando suas amizades e suas noites no boêmio bairro. Além disso, perpassa todos os preconceitos sofridos pela personagem em sua trajetória.

Sense8

Sense8 é uma série na qual alguns dos personagens fogem do padrão heterossexual da TV. Entretanto, essa não é sua motivação. O seriado reúne oito pessoas comuns, repletas de problemas, defeitos e virtudes, mas que, mesmo sem ter nada de “especial”, conseguem fazer coisas incríveis. Além de abordar a multicultura e as histórias de vida de cada personagem, o programa também enfoca temas como intolerância religiosa, machismo, homofobia e tantos outros assuntos que muitos meios de comunicações preferem fingir que não existem.

A série enfatiza a questão da igualdade de direitos, porém ela transgride esses conceitos e mostra o quão é importante pensar no próximo e respeitar as diferenças. Sense8 foge do discurso panfletário. Trata personagens gays e transgêneros a partir da complexidade inerente a qualquer ser humano.

RuPaul's Drag Race

RuPaul's Drag Race é um reality show norte-americano realizado pela produtora World of Wonder, idealizado e apresentado pela famosa drag queen RuPaul. O programa procura por uma crossdresser que possua talento, carisma, coragem e singularidade para receber ao título de "America's Next Drag Superstar", por meio de alguns testes. Em 2009, na sua estreia nos Estados Unidos pelo canal Logo, conquistou o mérito de programa mais assistido da emissora. Devido à recepção positiva do público, Drag Race já acumulou oito temporadas e a produção da nona está confirmada.

Dessa forma, RuPaul's Drag Race se transformou em um completo sucesso, principalmente na internet, onde circulam numerosos memes da série. E ganhou fãs assíduos que colocam o reality show entre os tops trends do twitter em todas as semanas de lançamento de episódios. No Brasil, é atualmente exibida pelo canal Multishow e também está disponível no serviço de streaming Netflix.

Foto: //Reprodução

Foto: //Reprodução

Foto: //Reprodução

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