Comunidade LGBT alcança nova conquista
A Transexualidade é retirada da Classificação Internacional de Doenças (CID - 11) e coletivos da UFG (Universidade Federal de Goiás) comemoram
Por Heloisa Sousa
Foto Gabriel Barreto
Os coletivos da Universidade funcionam como ferramenta de apoio e resistência
No dia 18 de junho, a Organização Mundial da Saúde publicou a retirada da transexualidade, que era considerada um transtorno mental, da Classificação Internacional de Doenças (CID – 11). O ocorrido foi comemorado pela comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) que alcançou mais uma conquista e mobilizou os núcleos de apoio à comunidade da Universidade Federal de Goiás (UFG). O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade Ser-Tão, o Coletivo TransAção, o projeto de extensão Trans UFG e o Cursinho Popular Prepara Trans lançaram uma nota no site da UFG declarando a importância da luta dos LGBTs para que medidas como essa sejam tomadas.
Atualmente existem na Universidade grupos de apoio à comunidade LGBT, entre eles estão o TransAção e o Ser-Tão, que é mais voltado para a discussão de gênero e da mulher na sociedade. “O coletivo se formou porque precisávamos reabrir o projeto TX, que é o projeto transexualizador de Goiás, e a intenção era nos juntar para pensar de que forma articularíamos Universidade, Poder Público e Movimento Social pra fazer isso acontecer. E assim nasce o coletivo que é o primeiro interuniversitário”, contou Yordanna Lara, coordenadora do TransAção. Sua criação contou também com a contribuição de Ester Sales, Mestre em Filosofia pela UFG e a primeira mulher trans a concluir um mestrado na Universidade. Ester, junto de Renato Cordeiro, que era estudante do curso de graduação em História, foi a primeira a requerer o pedido do nome social trans, em 2014.
A criação do coletivo TransAção tem relação direta com o Projeto Transexualismo (TX), fundado há 17 anos no Hospital das Clínicas da UFG (HC) e que se tornou referência na área de cirurgia de redesignação sexual (CRS) dentro e fora do Brasil. Renato, homem trans, que era casado com Yordanna, foi um dos beneficiados pelo projeto, mas faleceu em julho do ano passado deixando o legado do Coletivo que tem cada vez mais atuação nos meios que ocupa. “A minha demanda é de amor, eu me envolvo porque eu queria que ele (Renato) se sentisse bem dentro da Universidade”, declara Yordanna.
Luciene Dias, docente do curso de Jornalismo e membro do Núcleo Ser-Tão, fala da importância desses coletivos na Universidade. “Os núcleos são fundamentais, porque é onde você, por exemplo, diante de uma situação de opressão, encontra apoio. Você consegue conversar. Porque as pessoas que são LGBT sofrem violências cotidianas”. Luciene, que auxiliou na criação do TransAção quando foi Coordenadora das Ações Afirmativas, comenta ainda sobre o núcleo do qual faz parte “O grupo Ser-Tão tenta pensar relações de gênero e relações sexuais na UFG. Não somente a partir de denúncia. É um grupo que existe na Universidade para estudar, para fazer pesquisas, para fazer denúncia e também para elaborar políticas públicas”.
LGBTfobia no Campus
Foto Gabriel Barreto
A homofobia tenta, a cada dia, apagar a identidade LGBT
No ano passado, foram registradas, na Ouvidoria da UFG, 14 denúncias envolvendo LGBTfobia, sendo que 13 dizem respeito ao mesmo caso. Esse ano, segundo o TransAção, ocorreram casos de transfobia referentes ao desrespeito do nome social pelo Restaurante Universitário (RU) e ao usos dos banheiros e saunas do Clube dos Servidores Administrativos por pessoas trans. Pensando nisso, neste ano, a pauta em destaque no coletivo é a empregabilidade de pessoas trans e a permanência delas na Universidade. Também estão sendo pensadas formas de educar a instituição para tratar as pessoas trans.
Denise Ribeiro, membro da Ouvidoria, comentou os baixos números de denúncias e disse que casos de LGBTfobia são uma realidade no Campus, mas o medo da exposição acaba desmotivando as vítimas a efetuar uma denúncia, uma vez que é necessária uma acusação formal e isso pode ser um processo muito burocrático.
Filmes e Palestras
Ocorreu no Banana Shopping, do dia 7 ao dia 13 de junho, o Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo). “A ideia do festival é trazer a questão da discussão da diversidade sexual e de gênero em Goiás e trazer essa liberdade, essa possibilidade de educação que eu aprendi com outros festivais”, comentou Cristiano Sousa, Cineasta e Diretor do evento.
Foto Gabriel Barreto
O festival apresentou filmes e palestras gratuitos abertos ao público
A terceira edição do festival apresentou diversas palestras que discutiram as vivências da comunidade LGBT. Yordanna, que também é Mestranda em Antropologia Social pela UFG, dialogou com o público em uma das mesas do festival. E comentou sobre a violência simbólica existente nas dificuldades que o Estado coloca quanto à mudança de nome para pessoas trans e do não reconhecimento desse nome na sociedade “Nós somos hoje o país que mais mata transexuais, travestis e transgêneros no mundo. E a gente mata não só o corpo, a gente mata politicamente”. Ela pondera ainda: “Nós não temos nenhuma conquista que virou lei. Todo e qualquer benefício em torno da causa LGBT vem de arranjo judiciário”.
O festival anual, que terá sua quarta edição em 2019 do dia 6 ao dia 9 de junho, apresentou muitas mesas de debate como ferramenta de combate à LGBTfobia. As mesas trouxeram reflexão ao público que acompanhou o evento. O assistente social Jessé Silva comenta sobre a homofobia que sofreu quando trabalhou como assessor na Assembleia “Como eu sou gay, eles tinham a imagem de que era uma pessoa frágil e, quando eu ia compartilhar minha opinião, eu sofria retaliações”.