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Rádio Universitária incentiva mulheres a trabalharem com jornalismo esportivo

Alunas da graduação em Jornalismo são incentivadas a seguir carreira na área esportiva, mas ambiente de trabalho ainda é machista

Por Rafaela Lima

Foto: Laura Chaud

Mariana Siqueira uma das integrantes da equipe feminina na rádio universitária e ocupa seu lugar com orgulho

   Apesar do nome “Doutores da bola”, o programa de extensão da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC) em parceria com a rádio Universitária, vem sendo um ambiente democrático para homens e mulheres. Com nove meninas atuando no laboratório de Jornalismo Esportivo, duas estão à frente como monitoras. E como monitora geral dos Doutores da Bola está Aline Carpelo, estudante do 7° período de Jornalismo da UFG.

  Aline desempenha função de comandar tudo pelos bastidores, tendo contato direto com a rádio para combinar questões como transportes, auxílio técnico e comandar reuniões para a análise do desempenho dos estudantes. Ela explica os pontos que podem melhorar e os pontos que eles devem manter. Em junho do ano passado ela participou de uma transmissão de uma partida de futebol feminino que foi do campeonato brasileiro da Série A2, entre Aliança de Goiás e América Mineiro. Ela disse que a experiência foi muito boa, não só para ela, mas para todas as meninas que participaram. E que foi a partir daí que ela começou a evoluir no jornalismo esportivo. Acrescentou também que “essa transmissão foi muito bacana, pois deu visibilidade e apagou um estereótipo que os Doutores tinham na faculdade, porque muitas pessoas chamavam os meninos de machistas, de adoradores de futebol e, quando a gente fez isso, mostrou que ali não é um espaço de machismo.” E que agora ela, como monitora geral, percebe que tem um papel importante de incentivo para as meninas continuaram no jornalismo esportivo.

  Há seis anos e meio à frente dos laboratórios dos Doutores da Bola, e também docente da disciplina Jornalismo Esportivo na UFG, o professor Ricardo Pavan fala que houve um aumento significativo de estudantes mulheres que ingressaram na rádio. Segundo ele, isso pode ser um reflexo do tratamento que elas recebem. “Quando eu assumi esse projeto em 2012, com o tempo as meninas tomaram conta, foram se tornando protagonistas do projeto. Culminam hoje com todas elas monitorando, elas à frente, coordenando esses projetos na rádio universitária.”

  Todavia, o machismo sempre estará presente, se não for de maneira escancarada será de maneira velada. Mariana Siqueira diz que o jornalismo esportivo não era muito o seu foco, mas, quando o conheceu pôde ver que tinha tudo a ver com ele. Há dois anos e meio estagiando no programa Doutores da bola, Mariana relata que às vezes acontece de haver momentos que ela sente que sua capacidade está sendo testada.

  “Dentro da rádio, no início, tinha muita gente que olhava, e perguntava se eu me sentia segura em falar de esporte. Ainda hoje isso ainda acontece, são perguntas feitas para saber se eu sou e estou capacitada, para ver se mereço estar ali.” Ela acrescenta que isso acontece de forma natural, que seus colegas às vezes nem notam que estão fazendo isso. E acredita que isso vem de um problema ainda mais sério, o de que a sociedade tem uma mentalidade machista já disseminada, e que isso acaba refletindo em uma falta de equiparação entre homens e mulheres. Para ela essa desigualdade se demonstra em qualquer campo de trabalho e no jornalismo esportivo ainda mais.

Dribladoras

Foto: Laura Chaud

Estudantes do curso de jornalismo UFG preparam o programa de rádio Doutores da Bola

 A prática jornalística no meio esportivo oferece desafios diários às mulheres. Isso se dá em decorrência de uma mentalidade preconceituosa presente na sociedade de que mulher não sabe de futebol ou que não deve saber de futebol. Assim a maioria das jornalistas esportivas tem de estudar o dobro dos homens para não serem desacreditadas. 

Tandara Reis, estudante do 5° período de Jornalismo da UFG, e estagiária no programa de rádio Doutores da Bola, já teve a experiência de ir para o estádio cobrir um jogo. Ela conta que o descrédito, afeta psicologicamente as mulheres.

 A regra do impedimento é aplicada a todo tempo ás mulheres que optam por seguir carreira no jornalismo esportivo. Luana Carvalho, jornalista que produziu o documentário “A regra do impedimento: O protagonismo da mulher no jornalismo esportivo goianiense,” explicou de onde veio à ideia de produzir um documentário com essa temática. “Quando uma mulher diz que gosta de futebol, geralmente um homem que quer testá-la diz: então explica a regra do impedimento! E daí veio a ideia de mostrar que a verdadeira regra do impedimento acontece no mercado de trabalho. Resolvi contar histórias de mulheres já consolidadas no mercado para mostrar para nós, estudantes, que a dificuldade esta aí, mas que não podemos desistir.” Luana se formou pela UFG em 2015, e esse documentário foi seu trabalho de conclusão de curso. Durante sua graduação, ela estagiou por dois anos na rádio Universitária e diz que, quando lá estagiava, o machismo não era de maneira explícita, mas era sútil, o que era pior. Ela trabalha atualmente como social media, mas revela que pretende engatar uma especialização ou um mestrado em jornalismo esportivo, para continuar seguindo o seu sonho.  

Mudando as estatísticas

 Segundo pesquisa de 2010 do Conselho Superior de Esportes da Espanha, estatísticas apontam os homens como sujeitos das notícias em 89% das publicações de 108 países. Nessa copa do mundo na Rússia, houve uma iniciativa que ajuda a mudar esse quadro: na primeira vez na história do Brasil há mulheres narrando jogos numa Copa do Mundo de Futebol.

 A emissora Fox Sports fez uma campanha chamada “Narra quem sabe”, que selecionaria uma equipe de mulheres para narrar jogos da copa. A primeira a narrar um jogo foi a jornalista mineira Isabelly Morais, que estreou no jogo entre Rússia e Arábia Saudita. E logo surgiram comentários machistas, tais como: “é estranho escutar uma voz feminina narrando um jogo.”. Entretanto, não há também, por exemplo, uma opinião que diga que é estranho exatamente o fato de elas não terem oportunidades para tal.  

 Outra crítica que se pode fazer refere-se, justamente, ao nome da campanha. Intitulá-la a partir do “narra quem sabe” aponta à necessidade imposta ás mulheres de sempre ter de provar seu conhecimento, de sempre ter de ser testadas antes de ocupar qualquer posição de destaque. É de se estranhar nesse contexto, que a sabedoria dos narradores homens jamais tenha sido colocada à prova pela menção óbvia de que para narrar, elas têm de saber.

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