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 Festival DIGO reforça a luta pela diversidade e resistência LGBT+

Em sua terceira edição, festival de cinema gratuito busca discutir pautas da diversidade sexual e de gênero em Goiás

Por João Pedro Felix Ortiz Camargo

Foto Laura Chaud

Equipe do Digo. Por não possuir incentivos do Estado ou de instituições privadas, o trabalho é voluntário para quem se interessar pela causa

 Goiânia recebeu, entre os dias 7 e 13 de junho, a 3ª edição do Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo). Houve a exibição de 61 filmes de temática Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual (LGBT+) ou outras identificações de orientação sexual e de gênero como a Assexualidade, Pansexualidade ou Não-binários. Instalada no Banana Shopping e com entrada gratuita, a mostra de curtas, longas-metragens e documentários reforçou a importância da luta e representatividade no mercado cinematográfico, tendo como outras atividades oficinas, palestras e debates sobre o tema a fim de fortalecer essa conversa na sociedade.

 Segundo o idealizador e diretor do festival, Cristiano Souza, a ideia principal sempre foi trazer a discussão da diversidade sexual e de gênero para Goiás, com a proposta de surpreender o público. Dessa maneira o festival busca ousar e chamar a atenção da sociedade. “Pelo cinema é possível sentir os dramas, é possível vivenciar uma história sem estar a vivendo realmente, é possível mostrar uma nova perspectiva da realidade que os LGBT+ vivem, seja ela boa ou ruim’’, o diretor completa.

 Para ele, é preciso de representatividade na direção dos filmes. Pessoas heterossexuais transmitem a visão que possuem sobre a comunidade, que muitas vezes permanece retratada a partir de uma ideia estereotipada. O Studio Responsability Index (SRI), ou Índex de Responsabilidade dos Estúdios, analisou em 2015 cerca de 126 filmes lançados por grandes estúdios e apenas 22 (17,5%) possuíam algum personagem que gerasse identificação em lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, sendo o último o menos representado. No cinema hollywoodiano, um padrão de imagem se forma com histórias quase sempre tristes e dramáticas, ou com um gay promiscuo e caricato. 

 Cristiano ressalta que é importante transmitir uma nova imagem da comunidade, uma imagem mais alegre e realística. “A imagem do LGBT+ no cinema deve ser como qualquer outra, normal como é na realidade. Bom ou mau, branco ou negro, deve retratar a realidade sem formar novos padrões de como um gay deve ser’’, ele conclui.

Um contato mais humano

 A produtora cultural do evento e estudante de Direção de Arte na Universidade Federal de Goiás (UFG) Ludmilla Oliveira, relata em seu contato com o festival que, “as pessoas que vieram assistir ao festival, tanto LGBTs quanto quem não se enquadra nesses grupos, tiveram a oportunidade de ver trabalhos que as fizeram se sentir um pouco mais próximas uns dos outros enquanto ser humano’’.

 Sediado no Banana Shopping, no centro da cidade, o festival pôde alcançar os mais variados perfis, sejam eles jovens, adultos, heterossexuais, homossexuais, ricos ou pobres. Foi possível revelar a existência do festival para muitos estudantes que frequentavam a praça de alimentação, que é do lado do cinema onde a programação estava sendo exibida.

 A técnica audiovisual e LGBT+, Melyssa Marys, esteve presente e analisa a importância do cinema para a militância e uma realidade mais igualitária  “O cinema possui um grande poder de comoção social, consegue mostrar para a sociedade fragmentos da vida de pessoas que normalmente vivem marginalizadas e ocultas. É claro que os filmes não fazem milagres, mas é uma forma de dizer que existimos e resistimos. ’’

O olhar de quem produz

Foto Laura Chaud

Diretor José Alírio Peña Zerpa, militante da causa e produtor de filmes LGBT'S+, participou da mesa de debate sobre LGBTfobia

 O diretor de origem venezuelana, José Alírio Peña, participa de festivais acerca da temática, é diretor de Produção da FUNDACIÓN FAMICINE, e produtor executivo do Festival CineVersátil. Quando questionado sobre a eficácia dos filmes nessa luta ele expõe seu ponto de vista: “Parto do seguinte princípio: nenhum filme, seja ele LGBT ou não, muda a vida de alguém. Se alguém diz que certo filme mudou a vida daquela pessoa, é mentira! Existem muitas outras coisas que te modificam durante a vida, inúmeras vivências que podem fazer isso. Entretanto, os filmes e festivais colocam em pauta os assuntos, dando abertura para uma discussão pública e aberta.’’

 Segundo um levantamento do Grupo Gay da Bahia em 2017, a cada 19 horas um LGBT é morto no Brasil, país que mais mata LGBTs no mundo com 445 homicídios registrados no ano passado. O diretor venezuelano diz que não são os festivais que irão mudar isso, pois diversos eventos sobre a temática já existem. Para ele, então acreditar que os filmes irão mudar uma mentalidade da sociedade é uma ideia errada, mas usar essas ferramentas para potencializar a luta pública é uma estratégia que deve ser seguida.

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