top of page

Suicídio é tema de debate na Universidade

Federal de Goiás traz exposição sobre a importância de se falar sobre suicídio

Por Bárbara Ferreira

Foto: Gianna Clara Moreira

Para cada 1 consumado, 3 tentaram, 5 planejam e 17 pensam sobre o assunto, diz estudo da Universidade Estadual de Campinas sobre o suicídio

 ‘Vê se não morre aqui no meu sofá’. Essa frase, muitas vezes dita a pessoas que sofrem de depressão ou de tristeza constante, que se esconde atrás do tom de brincadeira, motiva pessoas de todo o mundo a permanecerem em silêncio. A humanidade é espectadora de suicídios a todo momento e, mesmo assim, o assunto é brutalmente velado. Pensando nisso, na manhã do dia 13 de junho, a Universidade Federal de Goiás, na Faculdade de Letras, sediou o evento Prevenção ao Suicídio: múltiplos olhares, na intenção de trazer o debate para o ambiente acadêmico.

 Essa medida de não se tocar no assunto, posição parcial e mal pensada segundo especialistas, é tomada como uma forma de prevenção, uma vez que, quando comentado, o tema pode servir de gatilho para aquele que pensa em se matar. O primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2017, estima que, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas se mataram no Brasil.

 A psicóloga Dayane Godinho explica que tudo depende da forma como se trata o assunto e que o efeito dominó é uma realidade quando se fala de suicídio, entretanto, calar-se diante disso é apenas fingir que isso não acontece. “Ao mesmo tempo em que falar sobre suicídio pode auxiliar na prevenção, dependendo da forma que se fala, pode auxiliar também a potencializá-lo”, é o que pensa a psicóloga.

 O debate sobre suicídio é importante tanto para aqueles que lidam com pessoas que pensam em se matar, como para os próprios suicidas. A conversa gera identificação, assim, normaliza sentimentos e faz com que essas pessoas sintam que não estão sozinhas. Como explicou a psicóloga, “todos nós sentimos e, nem sempre, esses sentimentos são desejados ou agradáveis. A negatividade faz parte de todo ser humano. Todo mundo tem, dentro de si, a pulsão de vida e a pulsão de morte, como fala Freud. A pulsão de vida é a que conduz ao autodesenvolvimento, a capacidade de pensar melhor, de evoluir. Já a pulsão de morte é a que traz a inércia, é o que traz a falta de expressividade. Isso acontece dentro de todos, o tempo inteiro, uma ambivalência: a nossa parte que quer viver e a nossa parte que quer morrer. Pessoas potencialmente suicidas têm essa parte de pulsão de morte mais agressiva”.

Cão que ladra, morde

 Quando questionada sobre movimentação midiática sobre o suicídio, a psicóloga Dayane Godinho diz que “... tem gente que cria coragem, principalmente quando existe um ator famoso, uma celebridade que tem uma identificação afetiva com aquele potencial suicida. Isso pode fazer com que ele possa se encorajar, principalmente quando são noticiados métodos. Então, realmente pode ensinar.”

 O suicídio é considerado pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública. Assim, Myrella Brasil, do Instituto Bem Positiva, acredita que o suicídio pode ser prevenido mas, para isso, se faz necessária a ajuda de todos os que estão envolvidos com aquela pessoa. Ela fala sobre o Centro de Valorização à Vida ou Como Vai Você? (CVV), e sobre sua função como estimulador dessa discussão.

 "É importante que ele possa botar isso para fora, porque ele precisa entender o que está faltando nele, que conflito que está vivenciando, é preciso olhar para esse conflito e não fingir que ele não existe”, ponderou Fábio Santos, especialista e orientador da Comunicação Não Violenta (CNV). Cão que ladra, também morde.

Tudo bem com vocês?

Em tentativas equivocadas de se falar sobre suicídio, tornam-se virais séries como 13 reasons why, adaptação do livro de Jay Asher para a netflix, cuja narrativa é construída em torno da morte por suicídio de Hanna Baker. O plano dessa história era mostrar como o diálogo é essencial para um suicida, no entanto, o que se concretizou foi um tutorial prático e fácil, um passo a passo para a morte.

Seguindo orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), o jornalismo não noticia suicídios, na intenção de não ensinar ou motivar. Fábio Santos, da CNV, fala sobre como o assunto deve ser discutido com seriedade e responsabilidade. “Noticiar é importante, mas como noticiar é ainda mais importante. Mas, fingir que não existe, não.”

Foto: Gianna Clara Moreira

Palestra sobre suicídio teve como proposta tratar o tema com responsabilidade, além de falar sobre a vida de forma mais positiva

Isso é da sua conta

 A exposição Prevenção ao Suicídio: múltiplos olhares, contava com diferentes profissionais que, com propriedade, discutiram o tema proposto. Entre eles o psiquiatra Dr. Dhin Ally Untar, o logoterapeuta e analista existencial Sam Cyrous, a psicóloga clínica Dayane Godinho e também o representante da CNV, Fábio Santos. A partir dessas palestras, pôde-se visualizar a necessidade de se debater o suicídio de maneira séria e responsável nas universidades.  Isso é, sim, da sua conta.

 “Tem-se tido muitos casos de suicídio em ambientes universitários, não só na UFG, mas em todas as universidades do Brasil e do mundo. É um lugar em que os jovens trazem uma série de conflitos do início da vida adulta, em que eles se sentem a vontade, ou deveriam, pelo menos, de manifestar esses conflitos, essas dificuldades. Eles deveriam ser acolhidos e ter ambientes seguros pra debater esses assuntos”, afirmou Myrella Brasil, do Instituto Bem Positiva, organizador desse evento na universidade.

 A Universidade Federal de Goiás conta com o programa Saudavelmente, que apresenta uma rede de psicológos que atendem de duas maneiras. Pode-se solicitar acompanhamento profissional, terapia, mas também, existem horários reservados para emergências, um atendimento rápido se o sentimento consome aquele momento emergencial. A equipe de saúde mental desse Programa atua no atendimento social, psiquiátrico e psicológico de estudantes e servidores da UFG.

 

Procure ajuda.

CVV- Ligue 188

SAUDAVELMENTE UFG- 3209-6243

bottom of page