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Goiânia recebe Festival do Boneco

Apresentações refletem acerca das relações familiares, tecnologia, amizade e produção artística

Por Lara Rodrigues

Foto: Isabela Serra

Os espetáculos ocorreram com a junção de atores manuseando o boneco e outros vestindo apenas uma máscara para representar o boneco maior.

  Nos dias 17 a 23 de maio, Goiânia receberá pela quinta vez o Festival do Boneco. Este ocupará diversos espaços da capital; Teatro SESC, Centro Cultural UFG, Oficina Cultural Geppetto e Feira do Cerrado. As apresentações se iniciam por volta das 20 horas, exceto no final de semana (19 e 20 de maio), dias em que os espetáculos se iniciarão às 17 horas. Além do mais, ocorrerá uma oficina com o grupo paraense In Bust sobre “A dramaturgia do boneco para televisão”. As inscrições para a oficina custam R$ 20,00. O curso é indicado para pessoas com mais de 16 anos e será ministrado na Oficina Cultural Geppetto, de 21 a 23 de maio, das 14h às 17h.

  Desde a primeira edição, ocorrida em 2009, o festival vem percebendo o interesse das técnicas de manipulação para o teatro, tanto que houve edições subsequentes nos anos de 2011, 2013, 2015 e agora em 2018. O Festival do Boneco contribuiu e vem contribuindo para despertar o interesse dos criadores dessa área de atuação. A diretora geral do festival, Denise Carrijo, relatou: “A gente verificou que em outros estados havia festivais dedicados a essa arte que não acontecia em Goiânia. Então resolvemos trazer isso para cá. Já tinham alguns grupos que trabalhavam, mas eram poucos. Escrevemos o projeto e conseguimos trazer para cá, e, a partir disso, começamos a ver o interesse do artista nessa área e a gente vê que o festival que ajudou nessa construção.”

  A sala climatizada, bem equipada e iluminada lotou, declarando o interesse do público goianiense. “Demanda sempre foi boa, sempre tivemos casas lotadas. Gera muito o interesse da família, trazer a criança”, ponderou mais uma vez a diretora geral.

História

  Esta arte já estava presente entre os primitivos que, deslumbrados com suas silhuetas nas paredes das cavernas, elaboraram o teatro de sombras, visando talvez entreter suas crianças. A diretora artística, Izabela Nascente, disse: “É uma manifestação que veio junto com as manifestações do homem, tem o mito de origem que falava que quando o homem ficou ali em uma natureza hostil, ele tentou comunicar com os deuses, que era o sol, e toda aquela natureza que estava em volta, e ele começou a fabricar esse tipo de objeto, as máscaras, as esculturas, pra tentar amenizar a existência dele no mundo”.

  Sendo assim, nasceu há muito tempo atrás, no Oriente, principalmente na China, na Índia, em Java e na Indonésia, o teatro de Bonecos. “Cada região tem um mito de origem. No Brasil, o principal boneco é o mamulengo. E tem a história de que o boneco se originou através de um negro escravizado que, após apanhar do patrão, esculpiu um pedaço de madeira. O mamulengo representa o oprimido conseguindo descontar o que o opressor fez”, explicou a diretora artística, formada em artes cênicas. De acordo com a história, o trabalhador, angustiado com a situação em que vivia, mostrou o boneco ao patrão, encenando uma história que representasse a bondade do proprietário. Entretanto, ao se distanciar dele, a encenação se voltava para a realidade de escravidão, que são características que se repetem no mamulengo, já que ele faz parte da cultura nordestina e retrata situações cotidianas cômicas e sátiras.

 Segundo Izabelle Nascente, o teatro de boneco é uma linguagem muito diversa, pois são objetos produzidos por humanos que ganham vida e resultam nas formas profissionais de encenações.

Foto: Isabela Serra

Atrizes expressando o mesmo sentimento do boneco durante a interpretação.

Programação

  No dia 17 de maio, às 20 horas no Teatro do SESC, ocorrerá o espetáculo de Berenice; que narra a história de uma menina curiosa, que se encanta com o mundo e adora aprender e descobrir coisas novas. No dia 18 de maio, também às 20 horas no Teatro do SESC, ocorrerá o Tropeço, espetáculo em que, sobre uma mesa, com baús e alguns pequenos objetos, cria-se um mundo onde dois atores manipuladores e suas mãos dão vida a duas personagens.

  Já nos dias 19 e 20 de maio, ocorrerão duas apresentações, umas às 17 horas e outra às 20 horas. Entre Janelas e A Pontuação do Objeto ocorrerão no sábado no Teatro SESC e no Centro de Cultura da UFG. Esses espetáculos tratarão da amizade, tecnologia e produção artística.

  No domingo, às 11 horas, será apresentado Maria Bonita – Flor de Mandacaru, na Feira do Cerrado. Este é um espetáculo que aborda uma parte pouco explorada da vida de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu encontro com a mulher que foi sua musa e companheira, Maria Bonita. E mais tarde, às 17 horas, será apresentado, na Oficina Cultural Geppeto,  o espetáculo Pinóquio.

 

  Em seguida, nos dias 21 a 23 de maio, haverá oficinas com o grupo Inbust sobre “boneco e televisão”. Serão oferecidas 15 vagas e as inscrições podem ser feitas no site festivaldoboneco.blogspot.com.br, com uma taxa de R$ 20,00. 

Berenices

  O espetáculo do dia 17 retratou a história de uma menininha que está entrando em contato com seu mundo interno, formado por sonhos mesclados à realidade. Nesse universo onírico, ela é uma criança que se percebe com vários sentimentos. A personagem está conhecendo as emoções da chegada de um irmãozinho em sua vida, comentou a atriz Verônica Gerchamn.

  Esta atriz, também autora da história de Berenice, conta que: “o teatro de animação mexe com uma coisa que todo ser humano tem; todo mundo, quando era criança brincava de “dar a vida”, faz parte da natureza humana esse principio do “dar a vida”. Então o teatro de bonecos tem uma comunicação muito forte, tanto com a criança quanto com o adulto. Esse espetáculo é perfil de toda a família, um momento, uma experiência teatral para a família”.

Foto: Isabela Serra

Crianças e adultos assistindo ao espetáculo bem presos ao que acontecia no palco.

  Os espectadores Fernanda e Gustavo afirmaram trazer seus filhos para propiciar a eles maior contato com o capital cultural, com as artes, a música e o teatro. Para eles, o contato fará as crianças enxergarem o mundo com mais clareza, profundidade e pensamento crítico. As afirmações foram comprovadas quando Eduardo, uma criança de aproximadamente cinco anos, diz eufórico, com olhos vibrantes e alegres “a parte que eu mais gostei foi quando eu percebi que os bonecos eram os sentimentos da Berenice”.

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