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Ativista ambiental discute preservação do cerrado

O livro A rã que não se deixa ferver, de Luc Vankrunkelsven, trata questões ambientais em forma de crônicas

Por Caroline Camelo

Foto: Fabrício Vera

Roda de conversa sobre Agroecologia como saída sustentável frente ao modelo de produção e consumo

 A Universidade Federal de Goiás (UFG) recebeu o escritor belga Luc Vankrunkelsven para lançamento de seu livro A rã que não se deixa ferver – clima em movimento, no dia 18 de junho de 2018, segunda-feira, no Pátio das Humanidades do campus Samambaia, às 8h30.

 

 O escritor e teólogo também falou sobre as commodities no cerrado e houve a exibição do filme O Ritmo da Lagarta. Em seguida, o escritor participou de uma roda de conversa sobre agroecologia como saída sustentável frente ao atual modelo de produção e consumo.

 

Metáfora

Foto: Fabrício Vera

“O livro está me incentivando no objetivo de ser vegana”, diz Lucília Silva Borges

 O título é uma alegoria para a pessoa que não é passiva. “Este livro serve de instrumento para dialogar sobre nosso estilo de viver, sobre nossa cultura. Quando você vai colocar uma rã para esquentar devagar, ela não vai pular. Quando você a joga na água quente, ela pula. Então, a rã é uma metáfora para o povo que tem resistência. Quando vivemos e não questionamos a sociedade e nosso consumismo, somos como esta rã na água que se deixa ferver”, disse Luc Vankrunkelsven. O livro traz histórias de impotência, mas também de persistência conjunta no estilo de crônicas. “O título já estava na minha cabeça antes. Fiquei na cidade de Fortaleza para visitar a nova universidade para africanos e no último dia em que estava ali pensei sobre esse título. Fui usar o banheiro da casa do pessoal que me convidou e quando dei descarga rãs pularam do vaso”, completou, mostrando o caso curioso que lhe ensejou a pensar nesta metáfora.

 

 “Só esse título já é maravilhoso, eu me arrependo quando era mais jovem, na adolescência, de ter comido rã. Não terminei de ler ainda, mas li o final aqui em que a personagem é vegana”, disse Lucília Silva Borges, enfermeira aposentada, que veio a convite da professora Lisbeth Oliveira. Falou ainda sobre como o livro está incentivando no seu objetivo de parar de comer carne. “Quando você agride o animal, a energia negativa de quando ele morre vai para o cérebro dele. Nós comemos essa energia negativa. Vou tentar passar isso para outras pessoas”.

 

O agro e o cerrado

 

 Temas como o modelo de produção agrícola baseado na monocultura, a soberania alimentar, a engenharia genética, o patenteamento de seres vivos, a agricultura familiar estão no foco principal da ONG belga em que Luc participa, “A destruição dos ecossistemas é terrível para a mudança climática. Muito carbono e metano vão para a atmosfera. As árvores dos ecossistemas têm a capacidade de captar muito carbono, então, para mudar o rumo devemos replantar árvores e ter uma cultura que cuide melhor do solo, com matérias orgânicas que captam carbono. E isso tem tudo a ver com a mudança climática”, afirmou.

 

 Maria Aparecida, aposentada, comentou que este é um assunto que não pode ser esquecido. “É um assunto interessante, porque a rã, segundo a metáfora, não vê que água está fervendo e vai acostumando com o calor até que ela morre. Isso não pode acontecer. Quando virmos que esta fervendo, precisamos cair fora e arrumar outro meio de sobrevivência. E sobrevivência, agora, é cuidarmos da natureza, principalmente do cerrado. Esse autor, apesar de belga, estuda o cerrado que é nosso. Ele está lá do outro lado do mundo e preocupado com algo que deveria ser preocupação constante nossa”.

 

 Professora de Agroecologia, Magda Beatriz de Almeida Matteucci, comentou sobre como o livro apresenta a forma que o modelo desenvolvimentista funciona em detrimento do cerrado. “Eu trabalho com um modelo de produção que se contrapõe a esse modelo de produção brasileiro monocultor e de exportação”. Falou ainda sobre a pesquisa, dentro da universidade, sobre as espécies nativas do cerrado. “Estamos com uma das maiores coleções de exemplares de algumas dessas espécies aqui. E temos algumas propostas que buscam um modelo de desenvolvimento a partir dessas espécies”. A preocupação é não só do ponto de vista conservacionista, mas também de estar otimizando e desenvolvendo produtos a partir das próprias espécies do cerrado. “A gente tem uma preocupação também sobre a procriação de determinadas espécies , de a gente não só conhecer, mas ter a oportunidade de pesquisar e de dar esse retorno pra nossa comunidade”, completou.

 

O autor

Foto: Fabrício Vera

Luc Vankrunkelsven falando sobre a preservação do cerrado ao lado da professora Lisbeth Oliveira.

 Luc Vankrunkelsven, é militante junto à ONG Wervel em Bruxelas, acompanhando as discussões e movimentações do parlamento europeu em torno da política de importação que provocam impactos aqui e além-mar. “Há 9 anos meu trabalho é focado no cerrado. Me perguntaram o porquê de tematizar o cerrado na Europa. Ninguém fala dele, todo mundo só fala da Amazônia. O cerrado é o ecossistema mais velho, é único no mundo. E os europeus também o destroem, porque a soja do cerrado vai para Bélgica, Alemanha, Holanda e China.”.

 

 Desde 2008, Vankrunkelsven faz um roteiro anual em escolas agrícolas, universidades e movimentos sociais no Brasil. É autor de 15 livros, dos quais 7 são sobre Brasil-Europa e traduzidos no Português. Os últimos títulos são ‘Legal! Otimismo – realidade – esperança’ (2012); ‘Soja: tesouro ou tesoura?’ (2014); ‘Oásis: força planetária para uma nova primavera’ (2016); e ‘A rã que não se deixa ferver. Clima em movimento’, lançado agora.  O foco do trabalho desde 2010 é a interdependência entre destruição do Cerrado Brasileiro e o modelo de agricultura na Europa.

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