Exposição de cerâmica Kadiwéu é inaugurada no Museu Antropológico da UFG
Acervo organizado pelo curso de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais traz identidade indígena, representação feminina e particularidades em cada desenho
Por Amanda Birck
O Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizou no dia 11 a abertura da exposição de cerâmica Kadiwéu, contando com a presença da artista responsável pelas obras, Creuza Vergílio. O evento, organizado pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG, foi iniciado com uma roda de conversa sobre a produção da arte da comunidade, além do acervo variado de vasos em diferentes formatos, pratos, jarros, peças ornitomorfas e outros artefatos criativos.
No bate-papo que antecedeu a inauguração da mostra, Creuza esclareceu diversas dúvidas do público a respeito da arte indígena, das curiosidades em relação ao seu povo e ao preparo de suas obras. A artista demonstrou, ao vivo, a confecção de um vaso com os padrões de desenho Kadiwéu, permitindo aos espectadores a imersão na experiência de sua apresentação artística.
Foto: Lavínya Santos
Sala de exposição das peças de cerâmica, montada pelos estudantes do curso de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, contando com painel eletrônico informativo sobre a cultura Kadiwéu
Contexto Histórico
Os Kadiwéu, conhecidos como “índios cavaleiros”, são uma sociedade indígena que habita, majoritariamente, o estado do Mato Grosso do Sul. Divididos em quatro aldeias, concentram-se na região de rios como Paraguai e Nabileque, possuindo também algumas famílias concentradas em grupos menores, localizados na Reserva Indígena Kadiwéu, no município de Porto Murtinho. O povo Kadiwéu, organizado em sociedade hierárquica, exibe a característica marcante da exclusividade feminina na confecção de sua arte: a produção de cerâmica pertence apenas às mulheres da comunidade. Além do artesanato em barro, as mulheres Kadiwéu são também reconhecidas por seus desenhos minuciosos e simétricos na pele, traçados com tinta obtida da mistura de jenipapo e carvão.
Creuza Virgílio, na conferência a respeito da matéria cultural indígena, reforçou o papel das mulheres no espaço artístico. “É passada de mãe para filha. Quando mais nova, eu via a minha avó fazendo: minha professora foi minha irmã.” A artista brinca: “O homem pode até se pintar, fazer escultura... mas quando tem uma menina, é ela que faz arte.”
Foto: Lavínya Santos
Padrões do interior de uma fruteira, conhecida pelo povo como Ginogo Welegi, pintada e confeccionada por Creuza Vergílio
Divulgação e Popularidade
Para os Kadiwéu, a oportunidade de expor seu trabalho é de extrema importância. O reconhecimento das habilidades de cunho artesanal reforça, também, outro ponto que entrou em discussão na abertura: a consideração de assinar um nome na confecção de cada peça. A curadora e doutora em Antropologia Mônica Pechincha, que pesquisa a etnologia contida na comunidade há anos, reforça: “A Creuza trouxe a obra dela sozinha até aqui, em Goiânia. Ela conheceu a importância de assinar o próprio nome depois de ver o Memorial em Brasília, e disse que sentia falta de ver a representação da autoria nos museus. A maioria das artistas Kadiwéu não costuma assinar o próprio trabalho.”
Mônica também comenta da popularização do artesanato da sociedade. Segundo a doutora, o estudo dos Kadiwéus possui um valor etnográfico grande e antigo, importante para a discussão antropológica sobre arte, além de ser a marca de um povo. “A arte Kadiwéu sempre chamou muito a atenção dos pesquisadores. Os cronistas que passaram no século XIX por território Kadiwéu, escreveram ensaios sobre essa comunidade. Darcy Ribeiro fez uma coleção imensa de desenhos de mulheres de lá, inclusive houve uma seleção de desenhos da força feminina Kadiwéu para decorar um bairro em Berlim.”
Foto: Lavínya Santos
Montagem de dois vasos e um prato de padrões característicos Kadiwéu, confeccionados por Creuza Vergílio.
A Recepção do Público
Para os espectadores da inauguração da exposição, a experiência foi marcante. A estudante de História da UFG Paola Gomes, do 3º período, comenta sobre suas partes preferidas de todo o evento: “Uma coisa que tem me chamado atenção é o processo de feitura dessas obras, então poder ter um espaço anterior com a artista (Creuza) para descobrir sobre o trabalho, além de transmitir muita memória e história, foi muito importante. As obras são maravilhosas, e as que mais me chamaram a atenção da exposição foram as maiores, pois elas têm uma diversidade de cores e uma grandiosidade no que é transmitido para nós.”
As peças de cerâmica ficarão expostas no Museu Antropológico até o dia 3 de agosto, e estarão disponíveis para o público entre o período das 9 às 17 horas, de terça à sexta-feira. A entrada do evento é gratuita.