top of page

Na nova Praça Cívica, espaço ainda é marcado pela segregação

Sendo considerada o marco que deu origem a construção de Goiânia na década de 1930, a Praça Cívica tornou-se um importante cartão postal da cidade. Se antes seu entorno servia de estacionamento para veículos, em 2015, após uma revitalização realizada pela Prefeitura de Goiânia, sua paisagem ganhou contornos que resgatam sua configuração original.

Foto: Anna Santos

Mesmo após requalificação paisagística, a Praça ainda serve de moradia para moradores em situação de rua que ocupam bancos e marquises de prédios históricos

Requalificação da Praça Cívica objetivou resgatar traços de seu projeto original.   

Abrigando um dos principais prédios públicos de Goiânia, o Palácio Dr. Pedro Ludovico Teixeira – popularmente conhecido por Palácio das Esmeraldas – ,a Praça Cívica também reúne vários monumentos que simbolizam a história da capital, como o Monumento a Pedro Ludovico Teixeira e o Monumento às Três Raças. Foi também incorporada ao local a obra em forma de espelhos com o título “Os Carajás”, do artista plástico Siron Franco, representando a história do povo goiano. 

Rafael Caique

Foto: Anna Santos

Após o processo de revitalização paisagística, a Praça ganhou um novo calçamento, bancos, fontes luminosas e, com a retirada do estacionamento de veículos que antes funcionava em seu interior, hoje é possível a frequentação efetiva da população. Contudo, sua nova paisagem também é marcada por cenas e narrativas que denunciam uma triste realidade no local: moradores em situação de rua sobrevivem sem acesso à inclusão social.

Rostos quase invisíveis

Em meio aos inúmeros visitantes interessados em conhecer a nova Praça Cívica, misturam-se rostos quase invisíveis. São sujeitos que, na maioria das vezes, passam despercebidos ou são tratados com indiferença por alguns frequentadores.

Sentado em um banco em frente à fonte luminosa, o auxiliar de marceneiro Marcos Paulo, de 23 anos, e sua esposa, que preferiu não se identificar, observam a movimentação do dia. Depois de morar um período em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Marcos veio para Goiânia em busca de trabalho e já está aqui há 3 anos.

 

Sem encontrar emprego, o auxiliar de marceneiro e sua companheira encontraram na Praça Cívica a única alternativa de abrigo. Eles relatam as dificuldades em passar os dias no local: “Estamos na Praça há um mês, é muito difícil viver aqui. Não temos o que comer e para tomar banho usamos uma mangueira emprestada”, afirmou.

Ainda de acordo com Marcos, ele já procurou ajuda na Prefeitura de Goiânia, mas não foi atendido. Ele e sua esposa não permitiram que fossem fotografados durante a entrevista.

Do outro lado da Praça, em frente ao prédio dos Correios, o senhor Valdeir Ribeiro Xavier, de 37 anos, passa os dias vigiando carros. Valdeir chegou a Goiânia com 9 anos de idade, mora na Praça Cívica há 19 anos e sua família é de Brasília.

Para o vigia, depois das mudanças ocorridas na Praça, sua atividade foi prejudicada: “Antes da reforma tinham umas torneiras aqui, tinham mais vigias trabalhando também, mas,depois que eles tiraram as torneiras, só ficou eu trabalhando até hoje”, reclama.

Foto: Anna Santos

Valdeir Ribeiro sobrevive com o que ganha vigiando carros no entorno da Praça Cívica.

Valdeir também afirma que durante as noites é impedido de ficar na Praça: “agora eles não deixam os moradores entrarem na Praça, eles dizem que é pra preservar, e que não podemos dormir. Se a gente não respeitar (os policiais), eles batem na gente”, denuncia.

Exclusão versus Inclusão Social

O professor Eguimar Chaveiro, que évinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), aponta uma disparidade entre as mudanças ocorridas na Praça Cívica e a ausência de inclusão social dos sujeitos em situação de rua. “Não adiantahaver espaços requalificados, revitalizados, reformados se o usuário é segregado, impedido de ter saúde, educação. Ao colocar a questão dessa maneira estamos fazendo referência à segregação social e ao conteúdo da metrópole contemporânea, como é o caso de Goiânia. Estamos também especificando a leitura da Praça Cívica no formato atual: ela, por ser um espaço público, acaba se oferecendo às pessoas que não possuem casas, trabalho, família”, afirmou.

Eguimar também aponta quais são as ações públicas necessárias para a manutenção da cidadania da população em situação de rua da Praça Cívica: “pode haver medidas e ações de protagonismo social com esse grupo de pessoas a partir do trabalho, da educação, do esporte e da arte. E, numa escala mais abrangente, curvar o plano da gestão municipal para eliminar o processo social de segregação”, concluiu o professor.

Assistência Social

Sobre o acompanhamento prestado aos moradores em situação de rua da Praça Cívica,  a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) informou por meio de nota que o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas), realizou várias diligências na Praça Cívica, abordando 12 pessoas em situação de rua entre os meses de agosto e setembro deste ano.

De acordo com o órgão, após as abordagens realizadas na Praça no período, foi encaminhado um morador para o pronto socorro psiquiátrico Wassily Chuc, e os demais indivíduosforam encaminhados para a Casa de Acolhida Cidadã, que funciona como uma residência de passagem, acolhendo em caráter temporário e emergencial esses moradores.

Para um atendimento especializado, o órgão aponta o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que desenvolve atividades voltadas para a reinserção familiar dessas pessoas e para o encaminhamento ao mercado de trabalho, sendo ofertadas oficinas, rodas de conversa e atividades culturais diversas, com o objetivo de desenvolver a coletividade, trabalhar a subjetividade e favorecer o fortalecimento da autoestima e autonomia.

Produção de Texto Jornalístico

 

CURSO DE JORNALISMO

© 2016 por Elisama Ximenes, Nilton Rocha e Vinicius Pontes

bottom of page