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Caroline Carneiro

O islamismo brasileiro

Dentre todas as religiões vigentes no mundo, a islâmica é a que mais cresce. Uma pesquisa divulgada pelo grupo cristão Project Care aponta que os muçulmanos cresceram de 12,3% de fiéis no mundo no início de 1900 para 22,5% agora. Em Goiás, por exemplo, já existem mesquitas em Anápolis, Rio Verde, Nerópolis e em Trindade.

 

Fora do nosso estado, há muitas sociedades muçulmanas em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Foz do Iguaçu, onde se encontra a maior delas. Atualmente, o Brasil conta com 27 mil seguidores e segundo dados do IBGE, a religião cresceu cerca de 25% em dez anos.

Vivendo como minoria

 

A aceitação desse novo modelo de vida no Brasil, porém, precisa ser mais trabalhada. Os islâmicos que aqui moram constantemente se ofendem com ofensas e apelidos depreciativos. Alexandra Omar, muçulmana desde 2007, afirma que conheceu a religião a partir do marido, Mohamad Omar, que é filho de nascidos na Palestina e aprendeu desde criança a falar árabe.

Centro islâmico de Anápolis/ Foto: Luiz Mendes

Foto: Gospel Prime

Ela comenta que, “na verdade, eu fiquei muito curiosa porque a gente só sabe o que vê na mídia, e infelizmente o que a gente vê na mídia, associamos ao terrorismo aos homens-bomba, só essas coisas horrorosas”. Foi ao conhecer um sábio muçulmano em Anápolis que ela diz ter se encantado com a cultura e com os ensinamentos. “Foi aí que eu decidi pôr o véu”, declara.

 

Mohamad explica que quando eles têm a oportunidade, procuram esclarecer sobre o que realmente é o Islamismo, “mas quando não nos dão abertura, a culpa não é nossa”. Alexandra relata que muitas vezes já foi ofendida nas ruas, e cita “alguns dizem ‘olha lá a mulher-bomba’. Eu até não culpo ninguém, por que antes de me converter, também não sabia, porque eu só conhecia as coisas pelas mídias, só via na televisão fatos ruins”.

 

Alexandra aponta que o Islamismo não é bem assim, “ele tem os mesmos princípios de acreditar em Deus, de fazer o bem, não é uma religião violenta”. Ela e seu marido, Mohamad Omar, explicam que no Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, há passagens que deixam claro o respeito pelo próximo, a liberdade de expressão e de manifestação. “Esses grupos terroristas são menos de 1% do total de fiéis, eles mudaram a palavra e a usaram para si próprios, e nós nos prejudicamos por eles”, Mohamad complementa.

 

Em 2011 foi proposto um projeto de lei que tornaria obrigatório o ensino do Islamismo nas escolas brasileiras. A proposta foi criticada por ser considerada uma ameaça aos direitos das mulheres e dos homossexuais, dada à rigidez com que esses assuntos são tratados no mundo árabe. Alexandra pensa que “pode ser uma boa ideia, desde que os ensinamentos não sejam distorcidos”. O projeto ainda não foi aprovado, mas várias ativistas não concordam com ele.

 

A questão da mulher

 

Enquanto no Brasil não há leis específicas para muçulmanos, na França já há um projeto muito polêmico que proíbe o uso de burcas e niqabs, ambas vestimentas que cobrem inteiramente o corpo. Enquanto por um lado afirmam essa lei ser necessária para libertar a mulher da submissão, dar controle ao seu próprio corpo, por outro, grupos islâmicos sentiram-se ofendidos e várias mulheres contestaram, pois para elas são muito mais do que panos. Trata-se de respeito à religião.

 

Alexandra alega que a mulher é uma joia para o mundo árabe. “O papel da mulher no Islã é o mais bonito do mundo. Um dia um médico, amigo nosso, falou assim pra mim: ‘Olha, mais vale um cachorro pra um muçulmano do que uma mulher, o cachorro é mais amigo’. Eu pensei: será? E não é verdade. No Alcorão a mulher é uma companheira, ela é igual ao homem.”

 

“Eu dei muito certo com o islamismo, não tive problemas de aceitação”, Alexandra destaca, “mas as pessoas acham estranho sim, porque nós usamos roupas diferentes. Uso lenço para me resguardar para minha família, é um sinal de pureza. Uns falam ‘nossa, mas sua vida era uma agora virou outra, você é louca, que radicalismo!’ Mas não é, o importante é que eu esteja bem, o importante sou eu”, finaliza.

Produção de Texto Jornalístico

 

CURSO DE JORNALISMO

© 2016 por Elisama Ximenes, Nilton Rocha e Vinicius Pontes

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