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Brazabrantes a Goiânia: Uma jornada diária

Um, dois, três, quatro, cinco, seis... Quantos ônibus você pega diariamente até o trabalho? Para a população de Brazabrantes, cidade da região metropolitana de Goiânia, a tarefa de enfrentar o transporte público já caótico se torna ainda mais complicada. Com um exorbitante intervalo de ônibus a cada duas horas, os habitantes da pequena cidade se veem correndo contra o cansaço, sono, indignação, trânsito, lotação e, principalmente, contra o próprio tempo.

Com a alteração feita pela Rede Metropolitana de Transportes Coletivos de Goiânia (RMTC) no ano passado, a linha 214 de Brazabrantes, que tinha embarque e desembarque no Terminal Pe. Pelágio em Goiânia, passou a ser integrada ao Terminal de Goianira, fato que obriga os passageiros a descerem e pegarem outro ônibus a fim de se chegar à capital goiana. O desembarque em Goianira saturou ainda mais o percurso dos brazabrantinos, especialmente na primeira viagem do dia.

5h da manhã – O som da catraca girando ainda parece confuso graças ao sono. Passageiros se acomodam nos assentos, que obviamente não são suficientes para todos, enquanto alguns se amontoam frente à porta já fazendo um tipo de fila na estratégia de descer e rapidamente conseguir pegar o Eixo de Goianira. Em Brazabrantes, trabalhadores e estudantes apenas começaram a jornada diária.

5h18 – O ônibus de Brazabrantes mal chega ao Terminal de Goianira e tão cedo que o motorista abre as portas, tudo o que se vê são pessoas correndo tão rápido quanto podem. Agora o povo de Brazabrantes se mistura aos demais, das outras cidades, e concorre por um assento. O motivo de tanta disputa é o Eixo que vai direto ao Terminal Praça A. Seria finalmente um benefício. O grande problema é que a procura pelo eixão – nome que designa os ônibus biarticulados que operam na Avenida Anhanguera – que chega à praça A é muito maior do que a procura pelos veículos que chegam no Pe. Pelágio. Isso torna a vida dos passageiros um inferno.

5 e ? – Com tanta confusão, já não se sabe mais a hora. Corre, empurra, puxa, força. Uma vez no Eixo Goianira, a viagem é longa. Com muitas paradas, leva-se no mínimo 40 minutos para se chegar a Goiânia. Frequentemente, o veículo quebra no caminho e deixa os passageiros a mercê na estrada, esperando o próximo. Durante o percurso, o eixão fica extremamente lotado, e, no entanto, o motorista continua a parar nos pontos para que mais pessoas entrem. "Ó, motorista, não cabe mais gente!"

Foto: Yasmin Ramos

A que horas você acorda? A expressão popular "acordar com os galos" é realidade para quem precisa se deslocar de Brazabrantes até Goiânia.

“Levanto-me às 4h, todos os dias”.

Lindaura Alves, 51 anos, é auxiliar de serviços gerais. Ela parece dispersa. Irônica, fala alto sobre os problemas do transporte público para que os fiscais a escutem. Está preocupada com o horário do ônibus. "Direto tem assalto, ônibus estragado, briga."

A auxiliar de serviços gerais pega sete ônibus diariamente. Ela entra às 8h no trabalho, porém precisa acordar 4 horas antes: "Chego cansada, estressada, em meu trabalho”, desabafa Lindaura. Quando perguntada sobre seu dia a dia no transporte público, ela ri, entre o trágico e o cômico: "Se fosse outro, desistiria. É só o terror!".

À mente da repórter, vem o trecho de Millôr Fernandes: “O humor é o desespero bem educado”.

"Acordo às 4h20"

Max Miller, 15 anos, é estudante. Ele usa seu uniforme do colégio e carrega sua grande mochila preta nas costas. Senta-se no banco do terminal e suspira tentando transformar em palavras sua rotina esgotante. “Demora, lotação, criminalidade, filas desorganizadas, pessoas mal educadas.”

Max precisa pegar de cinco a seis ônibus, dependendo do dia, para chegar a sua escola em Goiânia e voltar para casa. Ele tem de chegar às 7h no colégio. “Se eu me atrasar um pouco mais, corro o risco de perder o ônibus e consequentemente o dia de aula.”

"O despertador toca às 4h30"

Márcia de Arruda, 38 anos, é telefonista. Com olheiras, parece cansada. Impacientemente mexe no celular a fim de burlar o tédio. "Empurrões, filas desorganizadas, muita bagunça, falta de respeito."

Sobre a demora de ônibus em Brazabrantes, Márcia afirmou: "Me afeta em tudo porque eu preciso acordar às 4h30 da manhã para entrar às 8h (no trabalho). Quando perco o ônibus é perigoso, cansativo, estressante... Uma perda de tempo!"

A carga emocional é forte: "Estressa bastante, fico completamente abalada", completa Márcia.

A rotina de cidadãos que, desconhecidos na infinidade de gentes em um ônibus lotado, enfrentam o martírio de um transporte público sucateado

Cintia Ferreira, 34 anos, é auxiliar de produção. Ela pega um panfleto de uma loja de móveis qualquer e o folheia, na intenção de passar o tempo. Já estava há tempos sua condução chegar. Qualquer coisa que a distraísse seria interessante. "Demora, intervalo muito grande entre um ônibus e outro. Lotação."

Yasmin Ramos

E essa jornada diária afeta no desempenho no trabalho? Para Cintia, sim: "O desgaste influencia." Os seis ônibus que ela precisa pegar deixam-na cansada: "Terrível, dá vontade de mudar. Fico bastante nervosa. Somos usuários e merecemos ter direitos como os outros", finalizou a trabalhadora.

Foto: Yasmin Ramos

Foto: Yasmin Ramos

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