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Gabriella Carmo

Artistas circenses enfrentam dificuldades para a consolidação do trabalho artístico no Brasil

Foto: //Reprodução

Os artistas de circo fazem das tendas, lonas, praças e rincões um espaço de trabalho que vai além dos objetivos econômicos e mercadológicos. O ofício, bem diferente daqueles que são praticados em escritórios ou instituições tradicionais, é exercido por pessoas que aprenderam a arte, desde a mais tenra idade, em circos fundados pelas tradicionais famílias circenses ou por artistas formados em cursos técnicos e escolas-circos. Dentro da atmosfera circense são criados números e técnicas cênicas que possibilitam a execução de um trabalho desenvolvido entre um corpo de artistas, composto de palhaços à acrobatas, que lutam por espaços simbólicos e pelo reconhecimento da arte circense dentro do mercado cultural.

O levantamento realizado pela Associação Brasileira de Circo (Abracirco), atualmente cataloga cerca de 180 circos itinerantes em todo Brasil. Para a professora de artes cênicas, Joana Dark, essa quantidade é insuficiente para atender os interiores e estados que carecem de investimentos artísticos. O circo é um importante difusor cultural porque o acesso às artes dramáticas principalmente aquelas que envolvem clows, teatro e dança, ainda é levado para muitos munícipios por meio dele.” afirma.

Um dos problemas enfrentados pelos trabalhadores de circo itinerantes é a falta de espaço público para a montagem da lona devido à especulação imobiliária. “ Está sendo cada vez mais difícil encontrar áreas públicas disponíveis para a instalação do circo, além da dificuldade que esses artistas enfrentam com a falta de leis específicas que possibilitem o fomento do trabalho circense” completa a professora.

 

Legislação

Para que os direitos  do trabalho individuais sejam preservados foram criados , dispositivos legais com o objetivo de ampliar a aplicação das normas trabalhistas aos artistas de circo. De acordo com a Analista Judiciária do Tribunal Regional do Trabalho ( TRT), Gáudria Santos Pereira, os circenses possuem trabalhos com natureza empregatícia distinta pois podem atuar de forma autônoma, estar vinculados à uma empresa ou companhia, ou ainda  ter um contrato coletivo, como é o caso do trabalho desempenhado pelas famílias tradicionais circenses.

“São situações diferentes, mas a lei  nº. 6.533/78 resguarda que a contratação do artista é feita por meio de contrato de trabalho padronizado, que deve ser visado pelo respectivo sindicato e registrado no Ministério do trabalho ou por meio de um nota contratual.” Segundo a servidora pública, a nota contratual é uma ferramenta  criada para ser utilizada no caso da  substituição temporária de um artista, ou serviços que não ultrapasse sete dias consecutivos. Nesse caso, após o encerramento das atividades o artista fica impedido de ser contratado pelo período de 60 dias. “A maioria desses artistas não tem conhecimento sobre os seus direitos, e, muitas vezes,  por amor à profissão, acabam aceitando a condição de  colaborador e vivem com rendimentos que  permitem tão somente a subsistência.” Afirma Gáudria.

A especialista ainda completou que “ o primeiro passo para lutar em prol da efetivação desses direitos é garantir a divulgação das leis já existentes.” . Outro problema enfrentado, especificamente, pelos profissionais dos circos tradicionais, que precisam viajar constantemente, é a dificuldade de  garantir o acesso à escola para os seus filhos. De acordo com Lucas de Souza Nunes, o palhaço Batatão, a educação está prevista de forma especial na lei para as crianças dos artistas circenses, mas na prática não é efetivada devido as dificuldades burocráticas.

 “Os pais que trabalham em circos itinerantes sofrem porque os filhos acabam ficando parados por falta de matrícula nas escolas. Geralmente, as diretoras não cedem vagas para as nossas crianças nem como ouvintes.” O artista ainda acrescentou que a educação escolar é desenvolvida de maneira informal pelos próprios funcionários do circo, ou as crianças e adolescentes acabam abandonando a carreira nos circos itinerantes devido a impossibilidade de conciliação da intensa rotina de trabalho com a vida escolar.

 

Desafios

As condições gerais para o exercício da profissão são comprometidas devido à falta de incentivo do poder público e a desvalorização da arte circense associada a substituição dessa forma de entretenimento pela internet e a televisão. “ No meio urbano ninguém está disposto a deixar o conforto das suas casas para apreciar um espetáculo de circo pequeno. Os ingressos são muito baratos, e, por isso, os artistas se mantém com poucos recursos, morando em trailers e usando banheiros químicos.” Afirma o palhaço Batatão.

Foto: //Reprodução

Apesar do cenário, os desafios ajudam a manter a tradição. Após o fechamento de vários circos de famílias tradicionais, a manifestação ganhou novas roupagens. Em uma tentativa de manter viva a atividade do circenses, os artistas desenvolveram escolas de criação em consonância com o circo tradicional mas que também transitam entre as modalidades realizadas nas ruas, nos teatros e em eventos. A hibridização do gênero estimula a criação de um novo espaço de trabalho para artistas que não tem mais condições de continuar viajando.

Foto: //Reprodução

O palhaço Batatão, formado em artes cênicas pela UFG, relatou que já teve experiência na área itinerante, mas hoje, atua em categorias alternativas do circo que possibilitam melhores perspectivas de trabalho. “ Tenho uma jornada dupla, trabalho com a realização e criação de espetáculos, mas também sou educador do Circo Laheto que é fixo em Goiânia.” O artista ainda explicou que o Circo onde atua funciona como uma escola. “ O nosso desafio é usar a ludicidade como forma de estímulo a criatividade e ao desenvolvimento de crianças e jovens da periferia e de baixa renda.” Afirma.

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